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‘É preciso democratizar o acesso ao conhecimento sobre sustentabilidade’

Jovens pecuaristas demonstram conscientização e interesse por novas práticas na Amazônia. Baixo acesso à assistência técnica, no entanto, é considerado um entrave

O pastejo rotacionado é uma das técnicas recomendadas pela Solidaridad Brasil para a pecuária de baixo carbono na Amazônia, pois reduz a pressão para o desmatamento de novas áreas de floresta. O advogado Alexandre Guimarães, filho de pecuarista em Novo Repartimento, no Sul do Pará, sabe a importância da prática e já a amplia numa das quatro propriedades da família. No entanto, entende que ainda falta informação sobre como aliar, da melhor forma, produção e conservação. «É preciso democratizar o acesso ao conhecimento sobre sustentabilidade, para que o produtor entenda que se ganha muito mais com a manutenção da floresta em pé e otimizando a produção do que derrubando área”, disse ele, mostrando que atores importantes da cadeia querem contribuir para melhores práticas.

Alexandre e outros mais de cem pecuaristas, fornecedores dos frigoríficos Minerva Foods e JBS, participaram de workshops de implementação do Guia de Indicadores da Pecuária Sustentável (GIPS), promovido pela Solidaridad Brasil e o Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (GTPS). No total, foram organizados seis encontros nos estados amazônicos de Rondônia e do Pará.

Durante o workshop em Rolim de Moura (RO), os produtores puderam conhecer as diretrizes de sustentabilidade usadas pelo GIPS

Fernando e Felipe Geraldino, filhos de pecuaristas que criam e engordam gado em Cacoal, Rondônia, também são exemplo do aumento no compromisso com a sustentabilidade. A dupla é prova também de que a nova geração de produtores já assimilou as vantagens da produção sustentável.

Nós, os mais jovens, entendemos que seguir essas orientações traz benefícios para a propriedade e para as pessoas que participam de todo o processo, contribuindo para melhorar a produção”, disse Fernando, referindo-se ao alcance da sustentabilidade na gestão da propriedade.

Também de Novo Repartimento, o pecuarista Valdir Lemos Machado comentou que adquiriu novas propriedades com o objetivo de ampliar o rebanho. Apesar de lamentar não poder abrir novas áreas de pastagem nas áreas de reserva legal, ele trabalha para melhorar o manejo do pasto, preservar as nascentes e conservar as matas ciliares. “Divido as áreas de pastagem para aumentar a quantidade de gado por hectare e procuro fazer um bom manejo para poder compensar o fato de a gente não poder mais desmatar”, observou.

Em Novo Repartimento (PA), pecuaristas compartilharam os desafios enfrentados para a produção sustentável de gado de corte na Amazônia

Juliano de Melo Gomes, pecuarista da região de Plano Dourado, nos arredores de Marabá (PA), faz coro entre os adeptos de uma pecuária mais sustentável.

Ninguém mais precisa de desmatamento, pois hoje é possível aumentar a produção em cima da área que já está aberta”, afirmou.

A despeito de um despertar na conscientização dos pecuaristas sobre os benefícios da sustentabilidade, Alexandre Guimarães acredita que ainda é necessário haver uma sensibilização sobre as vantagens econômicas de manter a floresta em pé. “Não dá para só chegar no produtor e dizer ‘você não pode fazer isso’”, disse.

Ainda segundo ele, ampliar o acesso à assistência técnica, ainda insuficiente na região de Marabá, pode ser parte da solução. “Novo Repartimento tem uma extensão grande, o número de propriedades é grande, então nem se tivesse três vezes o número de assistência técnica que tem hoje não dava conta”, explicou.

Antônio Dourado Barbosa, pecuarista em Cruzeiro do Sul, no município de Itupiranga (PA), também aponta baixo acesso à assistência técnica. “Nós aqui não temos acesso à tecnologia. O governo deveria investir em assistência, pois todo pecuarista tem que aprender a produzir e ter lucro”, comentou.

PRESSÃO DO MERCADO

Após conhecer os critérios de sustentabilidade apresentados durante o workshop, o pecuarista Enio Milane, de Vilhena (RO), destacou a necessidade de ampliar seu conhecimento para a melhoria das práticas em sua propriedade. Ele acredita que hoje o consumidor está mais e exigente, e seguir os critérios de sustentabilidade ajuda a “abrir mercados”.

Médico veterinário e pecuarista da região de Marabá, no Pará, Maurício Pompéia Fraga Filho administra as propriedades do pai e compartilha a renda de sua produção com familiares. Representante da segunda geração de produtores de gado na Amazônia, ele afirma que “o mercado está exigindo uma pecuária mais sustentável”.

Para ele, os novos parâmetros do mercado são mais uma prova da necessidade de adaptação do setor e podem também ser adotados por pecuaristas mais conservadores. «Meu pai segue trabalhando e aberto a todas a mudanças”, conta. De seus três filhos, apenas Guilherme optou por seguir no ramo da pecuária e acompanhou o pai no workshop de Marabá. Ele deixou a carreira de piloto de avião para seguir os passos do pai e do avô.

Maurício conta com a ajuda do filho Guilherme na gestão sustentável da propriedade da família

BAIXO CARBONO

As atividades em parceria com o GTPS fazem parte de um programa liderado pela Solidaridad Brasil que visa apoiar a transição para uma pecuária de baixo carbono na Amazônia. O objetivo é aumentar a demanda por produtos agropecuários nos mercados dos Estados Unidos e da China que permitam a conservação da floresta. O projeto é financiado pela Iniciativa Internacional para o Clima e Florestas da Noruega (NICFI)  e pretende contribuir para a adaptação e mitigação às mudanças climáticas.

Também por meio de apoio da NICFI, a Solidaridad desenvolve desde 2015 o projeto Territórios Inclusivos e Sustentáveis na Amazônia no assentamento rural Tuerê, em Novo Repartimento, no Pará. No total, 200 pequenas e pequenos produtores recebem assistência técnica para a recuperação de áreas de pastagens degradadas. Além disso, nossos técnicos promovem a capacitação para práticas agropecuárias de baixo carbono.

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